Gás hilariante: o perigo que ninguém leva a sério

No post deste mês, trazemos um tema que tem preocupado sobremaneira os neurologistas portugueses nos últimos meses. O consumo recreativo de óxido nitroso, conhecido como “gás hilariante”, está a deixar um rasto silencioso de jovens com lesões neurológicas graves e, em muitos casos, irreversíveis. Mais uma colaboração NCeutics e @thetwindocs a não perder.

A Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN) manifesta uma “profunda preocupação face ao aumento progressivo de casos de intoxicação” observados em vários hospitais, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo. O que muitos adolescentes e jovens adultos veem como uma experiência “inofensiva” pode, na verdade, mudar radicalmente o curso da sua vida.

O óxido nitroso inativa a forma ativa da vitamina B12 no organismo. Esta vitamina é essencial para a função nervosa e para a integridade da medula espinhal. Quando é bloqueada, mesmo em indivíduos com níveis normais, podem surgir rapidamente danos neurológicos sérios. Os médicos têm identificado polineuropatias axonais incapacitantes, mielopatias de evolução grave e alterações psiquiátricas como psicose, perturbações de personalidade e deterioração cognitiva. Há jovens que deixam de conseguir andar. Outros perdem capacidades cognitivas e emocionais que dificilmente serão recuperadas.

Este fenómeno, nas palavras da SPN, representa “uma verdadeira urgência de saúde pública”, com impacto motor, cognitivo e funcional potencialmente irreversível. A facilidade de acesso, com venda até em cafés e outros espaços comuns, agrava ainda mais a situação.

A deficiência de vitamina B12 provocada pelo uso de óxido nitroso instala-se depressa, muitas vezes sem aviso, e quando os sinais aparecem como formigueiros, dormências, instabilidade na marcha, confusão mental, os danos já podem estar instalados.

Mais do que nunca, é urgente falar sobre isto. É urgente informar, prevenir e proteger. Se tem filhos ou jovens à sua volta, fale com eles. Não parta do princípio de que “isso nunca lhes aconteceria”. Pode ficar surpreendido ao descobrir que já experimentaram… ou que conhecem quem consome. Uma conversa atempada pode fazer toda a diferença.

Referência bibliográfica: https://www.spneurologia.com/upload/news/Comunicado_aos_socios_Casos_de_intoxicacao_por_oxido_nitroso_25.pdf